segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Da Intolerância Religiosa ao Respeito Ecumênico da Fé

Autor: Raphael Cloux

Nos escritos sagrados e na oralidade religiosa a prática da harmonia, da tolerância, do respeito e valorização do ser humano em suas diversidades sempre esteve presente. As palavras de Jesus Cristo nunca incentivaram a negação do próximo - “Amai ao próximo como a ti mesmo”, nem tão pouco sua anulação, ao contrário, seu sentimento de piedade com o ser humano foi tão puro que perdoou seus próprios assassinos – “Meu pai tenha piedade, eles não sabem o que fazem.”

Se o próprio Jesus Cristo, um dos maiores exemplos da humanidade, foi capaz de pregar o bem para aqueles que lhe tiraram a vida, como podemos praticar a intolerância religiosa num Brasil e numa Bahia tão complexa e diferente? Quem pode ser capaz de julgar outra pessoa? – “Não julgue para não ser julgado”. Os ensinamentos dizem que para cada dedo apontado para o outro, existem pelo menos três apontados para si.

Parando para pensar bem, a humanidade sempre precisou das religiões para se comunicar com seu Deus. Assim foram os gregos e romanos, com suas mitologias que pairam sobre nosso imaginário até os dias atuais; os egípcios e suas divindades antropozoomorfas; os cristãos, com suas diversas igrejas; os judeus e muçulmanos, que mesmo sendo religiões irmãs, divergem tanto; os espíritas, kardecistas ou não, buscando respostas e auxílio em seus espíritos de luz; as religiões indígenas no Brasil, com seus belíssimos rituais do Toré para homenagear os espíritos de seus entes recém falecidos e as práticas de cura de alma e de corpo; além das religiões de matriz afro-brasileira, o Povo do Axé, que têm levado a cultura da Bahia para os quatro cantos do mundo, com sua rica história dos orixás (inquices e voduns) e sua bela liturgia.

As religiões sempre estiveram presentes na humanidade, pois foram as formas que os seres humanos tiveram para se comunicar com Deus. Com isso temos que o divino é o divino, e a religião, por mais que queira ligar (ou Religar) o ser humano ao divino, é uma criação do ser humano. Não sendo uma criação do divino, significa que Deus está presente em todas as religiões. De forma diferente, pois os seres humanos são diferentes e, por conseqüência, criam formas diferentes de se religarem ao divino.

Bom, e se Deus está presente em todas as religiões, por que ficam inventando que religião A é a melhor que B? Que religião X cultua o diabo, e a religião Y que é de Deus (apesar de só pregar a guerra entre seres humanos)? Isso acontece por causa de uma fragmentação enorme da sociedade capitalista que individualiza as pessoas e propaga uma falta de cultura da tolerância. Tolerar significa respeitar, não mudar de religião. Significa aceitar a sua crença para si e a do próximo para ele mesmo.

Na Bahia, infelizmente, isso não vem acontecendo, ao contrário, vemos algumas igrejas humilhando e ofendendo o Povo do Axé. Incentivando uma verdadeira Guerra Santa, cujo objetivo é tentar difamar uma religião milenar. O que não vai acontecer porque o Povo do Axé é resistente e se defende. Sofreram durante a escravidão porque era a religião do negro escravizado, e se o negro não era considerado gente, nada que viesse dele era bom, sua cor, seu cabelo, seus lábios, sua religião, sua cultura. Acabou a escravidão, mas continuou a discriminação e opressão com o Povo Negro. E o Povo do Axé sempre resistiu, ora cultuando seus orixás (inquices ou voduns) junto aos santos católicos, ora se embrenhando nas matas para fazer o Xirê escondidos da polícia, pois era crime. Nessa resistência o Povo de Santo vem lutando para não ser massacrado.

Mas será que é essa sociedade capitalista fundamentada em valores de intolerância, de perseguição, de crueldade com os seres humanos que queremos? NÃO!!!

Queremos uma sociedade que se fundamente no espírito solidário da diversidade dos seres humanos. Cada religião tem seu propósito e direito de congregar a sua fé! Não existe religião melhor do que a outra, nem tão pouco aquela que cultua o diabo! Devemos ser solidários a todas as religiões que se sentem perseguidas e discriminadas, pois é isso que defende o socialismo. O socialismo propaga o espírito de solidariedade e liberdade entre os seres humanos. Ser socialista é defender um Estado Laico e uma sociedade que valorize o Respeito Ecumênico da Fé.

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